Peterhof, a joia czarista de São Petersburgo
Colaboração de Adriano Pupp Monaretto
Durante muito tempo a Rússia foi um país um tanto quanto fechado ao turista independente, somente as excursões levavam até lá e poucos se arriscavam a ir por conta própria. A rigidez da aduana, a dificuldade do idioma e a exigência do visto, mantiveram escondidas dos olhos do mundo as joias russas.
Entretanto, nesta última década, vemos uma Rússia mais integrada ao processo de globalização. Apesar de ainda ter uma aduana bem rígida, o que é algo normal para diversos países, o inglês começa a ser mais falado nas cidades turísticas e, como ponto principal para turistas brasileiros, desde 2010 não há mais a exigência do visto para viagens de curta duração.
São Petersburgo (Санкт-Петербург), antiga Leningrado, também chamada de Veneza do Báltico, deixa qualquer um boquiaberto com suas construções suntuosas e sua beleza, e pode ser alcançada facilmente por uma viagem em trem rápido a partir de Helsinki, na Finlândia.
Por esta mudança de cenário e pela simpatia do povo russo, é que convido você a conhecer, junto comigo e meu irmão Adriano, uma das joias raras herdadas da época do czar russo, Pedro, o Grande, o Peterhof.
O Complexo Peterhof Museum é um dos museus mais populares não só na Rússia, mas em todo o mundo. Mesmo passando algumas poucas horas no local, são o suficiente para sentir o espírito da história que ainda vive e respira neste lugar magnífico.
Um pouco de história:
Na época do czar Pedro, o Grande, o mar a Norte de Peterhof e para Este em direção a São Petersburgo, era demasiado superficial para permitir a navegação de barcos comerciais ou de navios de guerra. No entanto, para Oeste de Peterhof, o mar era suficientemente profundo para navios de alto-mar. Consequentemente, quando Pedro, o Grande decidiu erigir São Petersburgo no extremo oriental do Golfo da Finlândia, começou tomando a Ilha de Kotlin dos Suecos em 1703, a qual era claramente visível a partir de Peterhof, situada no meio do golfo, a Nordeste. Na ilha de Kotlin o monarca construiria o porto comercial de São Petersburgo, tal como as fortificações de Kronstadt, ao longo de uma linha de 20 quilômetros de mar superficial, para defender a marinha que ele formaria.
No dia 27 de Junho de 1709, dia de São Sansão, deu-se a Batalha de Poltava, na qual Pedro, o Grande, conseguiu repelir as tropas do Rei Carlos XII da Suécia, o que lhe permitiu controlar os territórios considerados como a porta do Ocidente, uma premissa essencial para garantir o desenvolvimento econômico do país.
A Batalha de Poltava merecia, portanto, ser dignamente celebrada, e a melhor forma de fazê-lo seria através da construção de uma suntuosa residência que fosse capaz de rivalizar com os mais faustosos palácios dos soberanos Ocidentais e, ao mesmo tempo, que constituísse um símbolo do seu poder autocrático. Contudo, foi necessário esperar até 1714 para que, consolidadas as posições russas no Báltico Meridional com a Batalha Naval de Hanögudde, as obras pudessem ser iniciadas, num local junto ao mar e à fortaleza marítima de Kronstadt, onde Pedro, o Grande, se instalava, desde 1705, durante as suas permanências em São Petersburgo.
As primeiras menções de Pedro, o Grande, a Peterhof encontram-se no seu diário, com data de 1705, durante a Grande Guerra do Norte, referindo-se a ele como um bom local de construção de um pouso para usar nas viagens de e para a fortaleza insular de Kronstadt. Em 1714, Pedro começou a construção, no que viria a ser o parque de Peterhof, do palácio de Monplaisir (meu prazer), baseado nos seus próprios esboços. Este foi o Palácio de Verão que Pedro usaria nas suas viagens entre a Europa e o porto marítimo de Kronstadt. Na esquina de Monplaisir virada ao mar, Pedro instalou o seu Estúdio Marítimo, do qual podia ver a Ilha de Kronstadt para a esquerda e São Petersburgo para a direita. Mais tarde, ampliou os seus planos, incluindo um vasto conjunto de palácios e jardins, seguindo o modelo do Palácio de Versailles.
Os palácios e jardins de Peterhof foram aumentados por cada um dos Czares que sucederam a Pedro, mas a maior parte das contribuições foram concluídas por Pedro, o Grande, por volta de 1725. Pedro chegou a conceber planos para um palácio semelhante em Strelna, a pouca distância para Este, mas estes foram abandonados. Peterhof, originalmente, tinha uma aparência bastante diferente da atual. Muitas das fontes ainda não haviam sido instaladas. Nem o Parque de Alexandre nem os Jardins Superiores existiam (o último era usado para o cultivo de vegetais e os seus tanques como viveiros de peixe). A Fonte de Sansão e o seu maciço pedestal ainda não foram instalados no Canal Marítimo e o próprio canal era usado como uma grande marina que entrava pelo complexo. Do mesmo modo, a Grande Cascata estava mais esparsamente decorada na sua traça original.
Isabel da Rússia, a filha e sucessora de Pedro, o Grande, também se instalou em Peterhof, onde encarregou o arquitecto italiano Bartolomeo Rastrelli de proceder a várias obras de ampliação, sendo as mais notáveis as empreendidas no Bolsoi Palaty (Grande Palácio), em resposta ao desejo de Isabel por um palácio mais adequado às exigências de representação da Côrte. Depois de concluidas as obras, o palácio estava apto para acolher a Imperatriz Isabel, os hóspedes das suas memoráveis festas e os intelectuais do seu salão, como o historiador Tatiscev, o poeta Kantemir, ou o escritor e cientista Lomonosov, o fundador da Universidade de Moscou.
Ao longo do século XIX Peterhof continuou a ser residência Imperial, tendo assistido à construção do Neogótico Parque de Alexandria, onde se ergue o pavilhão de Nicolau I e uma capela mandada construir por ele. Neste século foram ainda ampliadas fontes já existentes e construidas outras de novo.
Já no século XX, Peterhof sofreu gravíssimos danos, que pareciam irreparáveis, durante a Segunda Guerra Mundial. Quando se iniciou o conflito houve uma tentativa de evacuar as obras de arte e enterrar as esculturas. Nos poucos meses que mediaram entre o despoletar da guerra a Oeste e a chegada do Exército Alemão, os empregados conseguiram salvar apenas uma parte dos tesouros dos palácios e fontes. Foi feita uma tentativa de desmantelar e enterrar as esculturas das fontes, mas três quartos delas, incluindo todas as maiores, permaneceram no lugar. Apesar de todos os esforços, nada impediu que as tropas nazistas se instalassem em Peterhof, tal como em Tsarskoye Selo, em Setembro de 1941, onde permaneceram até Janeiro de 1944 e de onde prepararam o longo cerco a Leninegrado. As forças ocupantes do exército alemão provocaram grandes destruições, especialmente depois do fim do Cerco a Leninegrado: foram derrubadas árvores centenárias nos dois parques; o Grande Palácio foi pilhado e incendiado; a Grande Cascata foi pelos ares; os Pavilhões de Marly, Monplaisir e Ermitage ficaram semidestruídos; fontes e cascatas quase desapareceram, e as esculturas que sobreviveram foram levadas para a Alemanha. Na realidade, foi muito pouco o que restou.
Felizmente, pouco depois do fim da guerra foi iniciado um minucioso programa de restauro que conseguiu restituir ao conjunto o seu aspecto primitivo.
Em 1944, o nome foi mudado para Petrodvorets (Palácio de Pedro), como resultado do sentimento antigermânico e por motivos de propaganda, mas o nome original (Peterhof) acabou por ser reposto em 1997, pelo governo da Rússia pós-soviética.
O turismo no local:
Para chegar ao Peterhof não é complicado, basta saber chegar ao museu Hermitage de metrô (estação Admiralteiskaya ou Адмиралтейская), pois os barcos saem do píer atrás dele, ao lado da ponte Dvortsoviy, a famosa ponte levadiça. Há outras formas de se chegar ao Peterhof, entretanto esta pode ser a opção mais fácil, pois na dificuldade do idioma, pelo menos todos conhecem o Hermitage.
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Museu Hermitage à direita, os barcos e a ponte levadiça no fundo, à esquerda. |
Os barcos são confortáveis e rápidos. A viagem dura cerca de 35 minutos e custa 1.100 rublos (cerca de 16 euros) por pessoa ida e volta. Em cada palácio é cobrado um ingresso à parte, que pode ser comprado online através do site deles.
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Dentro do barco. |
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Chegada ao Peterhof. |
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Chegada ao Peterhof |
Peterhof é um conjunto de 500 hectares de jardins (Inferior e Superior), fontes e palácios (Strelna, Peterhof e Oranienbaum) idealizado pelo próprio czar Pedro, o Grande, construído entre 1714 e 1725, tendo sido sua habitação por anos, nos verões em que viajava para a Europa. Também foi palácio de verão de vários czares e imperatrizes durantes anos.
A história diz que o lugar foi inspirado nos jardins de Versailles, porém, a impressão que se tem é que os russos conseguiram superar sua fonte de inspiração. O grande diferencial são suas mais de 120 lindas fontes, que se estendem por todo o parque. De fato, caminhando pelos jardins, percebe-se que a água está presente em todos os caminhos percorridos. Desde o momento em que se chega, entrando pela "rua" principal, margeando o grande Canal do Mar, que deságua no Mar Báltico, já é possível avistar diversos chafarizes, a Grande Cascata e o incrível Grande Palácio ao fundo.
O Complexo do Museu Peterhof é considerado como a "capital das fontes." Incluído no registro do Estado dos mais valiosos bens culturais da Federação Russa, Peterhof agora ostenta o título orgulhoso de uma das "Sete Maravilhas da Rússia."
Então, ainda que seu tempo seja curto, vale a pena a visita, mesmo que seja somente para ver os jardins.
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Jardim inferior - caminho para a fonte de sansão |
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Jardim Inferior - fonte do leão |
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Jardim Inferior - fonte do sol. |
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Jardim Inferior - fonte da montanha do tabuleiro de xadrez. |
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Jardim Inferior - vista para a fonte de sansão. |
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Jardim Superior - fonte de Netuno. |
Além dos jardins, o complexo conta também com museus e palácios, sendo o principal deles o Grande Palácio. Mas há outros museus como a Igreja, o Museu do Tesouro Especial, as grutas e a Grande Cascata, o Palácio Monplaisir, o Módulo de Catherine (Catherine Block), o Módulo de Banhos, o Aviário, o Hermitage (para jantares especiais), o Palácio de Marly, o Museu Imperial de Iates, entre outros.
O Grand Palace:
O Grande Palácio (Gгаnd Palace) situa-se no coração de Peterhof - antiga residência de verão dos monarcas russos. De frente para o Golfo da Finlândia, o palácio surge acima da Grande Cascata e do Jardim Inferior, estendendo-se ao longo do pátio superior por quase trezentos metros.
A ideia original para a localização e aspecto geral das "câmaras superiores" pertencia a Pedro, o Grande. Ao longo dos séculos XVIII e XIX, os melhores arquitetos russos e europeus ocidentais trabalharam nas fachadas e decoração do interior. Mas a maior contribuição foi feita por Francesco Bartolomeo Rastrelli, que transformou o Grand Palace em uma obra de arte barroca durante o reinado da imperatriz Elizabeth, no século XVIII. O Grand Palace é tão bonito por dentro como por fora.
No século XIX, os interiores barrocos foram enfeitados com detalhes neoclássicos e leves toques de um Rococó tardio. O palácio possui obras-primas da arte decorativa como o Gabinete de Carvalho de Pedro, o Grande, com painéis esculpidos por Nicolas Pineau; a Grande Escadaria, o Salão de Baile e a Galeria de Imagens com 368 pinturas de Pietro Antonio Rotari; o Quarto Cesme criado para Catarina, a Grande, em honra às vitórias navais russas; os Quartos chineses e a Sala do Trono com a sua galeria de retratos Romanov. Hoje, o Grand Palace é um museu único de história e arte.
Além de desfrutar da beleza do local num passeio durante o dia, fique até o anoitecer e você poderá presenciar uma bela imagem de cores e luzes. Se for época de comemoração de aniversário do museu, o espetáculo poderá ser ainda mais belo.
Como Visitar:
Acesso: Como visto no texto, há um acesso por meio de
barco, que parte de trás do Museu Hermitage, mas há como chegar por meio de transporte público como ônibus.
Veja as opções.
Horário e Ingresso: Cada atração possui seu horário e seu preço.
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